domingo, 8 de fevereiro de 2015

Mulheres e RPG - as cotas para mulheres nas mesas de jogo

A primeira semana de fevereiro de 2015 trouxe de novo à tona as discussões acerca de mulheres e RPG. Eu havia acabado de jogar uma mesa com 3 jogadoras, 2 jogadores e 1 narrador. Para mim esse padrão de 50% mulher 50% homem é o normal em mesa, pois o meu grupo é assim. E é um grupo onde todo mundo mestra, embora alguns precisem de ameaças claras para sair do papel mais confortável de jogador e assumir a narração. Enfim, todo mundo ali é igual, e o que faz o jogo legal é que não ficamos discutindo a picuinha sobre mulheres e RPG.

Por causa de uma imagem de divulgação de um evento de RPG, a questão da inclusão ou objetificação da mulher já havia sido abordada em alguns grupos do Facebook dos quais participo. E novamente pudemos perceber que o tempo passa e nada muda, o preconceito continua o mesmo, os babacas crescem em cachos, como banana na serra. E eis que mais para o final da semana uma página - a qual eu já tinha visto vários posts babacas e preconceituosos mas tinha deixado passar - publicou uma foto, retirada sem autorização do Deviantart de uma designer de bijuterias, onde ela exibe o pingente de d20 que ela criou em seu próprio pescoço, para fins de divulgação da peça. Acontece que a garota é bonita, então ela mesma é a modelo de suas criações. E a fotografia do decote da menina veio acompanhada de uma frase machista, e de uma torrente de comentários piores ainda. Mas esse artigo não é para discutir o machismo óbvio, e sim o velado.

Das discussões geradas internet afora, e das iniciativas, a maioria louvável, de acabar com o preconceito, surgiu um novo tipo de machista: o mártir!

Ele é o cara que entra nas discussões apenas para se gabar que na mesa dele não tem machismo. Mas diferente das pessoas normais e saudáveis, que tem mulheres em sua mesa porque mulheres são jogadores como outro qualquer, o mártir busca, convida, caça, cerca, incomoda mulheres, visando ter cada vez mais delas em sua mesa, e faz propaganda de si mesmo exaltando o quanto ele é legal por ter mulheres no grupo.

O mártir tem tanta necessidade de auto-afirmação, que ele vai entrar em todas as discussões sobre machismo para convidar - mesmo que de forma velada - as garotas para o seu grupo. O mártir quer mostrar pros outros homens que é melhor que eles porque tem mais mulheres na sua mesa. 

Será que a atitude do mártir faz dele um defensor da igualdade ou mais um incentivador do machismo? Afinal, o mártir causa polêmica, causa desconforto nos machistas, cria um clima de competição onde "eu sou melhor que você porque tenho mais mulheres no meu grupo". E muitas vezes o mártir nem percebe, mas ele é tão machista quanto os demais, porque ele acha que está fazendo um grande favor para as mulheres oprimidas, convidando-a para o seu jogo.

O mártir é o defensor das cotas no RPG, pois parte do pressuposto que aquele grupo - mulheres - não tem condições de entrar e se manter no competitivo mundo do RPG se ele não der a elas essa oportunidade. 

Mulheres devem jogar com grupos que lhes tratam como iguais, com grupos que não ficam discutindo essa problemática. O problema existe sim, e deve ser combatido. Mas a bandeira deve ser de igualdade. Alguém deve ser convidado a uma mesa de jogo não por seu sexo, não por status, muito menos por cotas. Deve ser convidado pela amizade, pelas horas passadas entre amigos fazendo uma atividade que trás alegria a todos. 

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