segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Eventos de RPG: podemos aprender com o passado?

Estava arrumando um armário, quando dei de cara com o folheto da programação do 13º EIRPG. Foi a última edição do evento feita no Mart Center, e também a última a ter programação de sexta-feira voltada para escolas e educação. Também foi um marco de que o evento estava em decadência, já que não teve um convidado internacional, e a partir das outras edições, o perfil das atividades mudou, talvez para tentar recuperar o público, talvez para se adequar às novas localidades. Não sei se as mudanças deram muito certo, uma vez que depois dele, houve poucas edições, com o retorno apenas em 2013, não mais como evento independente, mas como parte de um (caríssimo) evento de Anime.






Ao reler a programação, algumas atividades e dados chamaram a atenção:

- Um total de 6 torneios de Card Games, sendo eles ou campeonatos nacionais ou mesmo valendo vaga para campeonatos Sul Americanos, e um campeonato Sul Americano. Será que o público não sente falta desse tipo de incentivo para ir aos encontros?

- 5 live actions, três dos quais abertos para mais de 50 pessoas. Se me lembro bem foi nesse EIRPG que eu narrei live, e de 40 a 60 vagas abertas inicialmente, teve mais de 120 inscritos e conseguimos fazer ficha na hora pra dar conta de 100 jogadores. Atualmente nos eventos pequenos e médios, é difícil aparecer 100 jogadores para o evento todo, que dirá 100 para uma única atividade...

- Uma oficina para Mestres de RPG, dividida em 2 partes, num total de 7:30h, ministrada por um mestre "das antigas" e pessoa com muita experiência no RPG. Nunca mais vi coisa parecida nos eventos recentes aqui de Sampa.

- Palestras aleatórias, com assuntos que não são diretamente ligados a RPG, mas que podem servir como inspiração para a criação de cenários e aplicação em mesa de jogo.

- Contação de histórias - acho isso muito legal porque vejo que muitos candidatos a mestres de RPG não sabem contar histórias.

- Palestra sobre sistemas pouco conhecidos. Atualmente nós temos vários sistemas publicados em português que poderiam ser considerados pouco conhecidos, então por que não o pessoal das editoras vir vender seu peixe falando dos seus próprios jogos?

- "Jogos Especiais com os mestres jurássicos (mestres que começaram a jogar há mais de quinze anos)". Me dei conta que eu sou uma mestra jurássica. É muito muito triste quando nós, mais velhos, preparamos um jogo com todo carinho pra levar num evento e ou não tem mesa disponível ou não tem jogador. Não vejo atualmente nenhum carinho ou atenção especial com mestres experientes, nenhum mimo, nenhum reconhecimento. Muitos dos mestres experientes que eu conheço largaram mão de ir em eventos porque tanto faz, o que importa em evento é volume. São pessoas que poderiam contribuir muito para a formação de novos mestres, para o incentivo de novos jogadores, mas por que se importar com os antigos? Os novos eventos estão tentando focar em atrair para o RPG a nova geração, que nem joga ainda, mas sem os antigos jogadores, com quem os novos vão pegar gosto pelo jogo?

Vejo muito em eventos pequenos e médios a ênfase em atividades que não são RPG. Não que essas atividades não devam existir, mas se um evento de RPG precisa divulgar que vai ter campeonato de Cosplay ou Swordplay para atrair público, tem coisa errada com o a estrutura do evento. Por que ao invés de tentar atrair um público diferenciado, os organizadores não se preocupam em perguntar aos jogadores e mestres o que no evento deles não está sendo atrativo para essas pessoas? Acredito que aí resida a resposta de por que um evento não dá certo. Se ele é um evento de RPG, só vai funcionar se convencer os RPGistas a saírem de suas casas para ir até eles.

Nunca nenhum organizador de evento de RPG me perguntou o que eu gostaria de ver no evento, ou os motivos de eu olhar para uma programação e ela não me incentivar a sair de casa. O que me faz lembrar de outro causo...

Em 2003, eu ainda não me considerava uma mestra de RPG experiente, mas era participante experiente de um Fansub de Anime. O grupo que eu participava já tinha feito sala de exposição em vários eventos de anime médios e pequenos. Nosso grupo foi convidado pelo dono da Yamato, junto com representantes de vários outros grupos, para uma série de reuniões, onde ele nos perguntou o que queríamos ver num evento de Anime. Desde o começo ele foi bem claro que queria fazer um evento para dar dinheiro, mas em contrapartida, queria dar a gente o que a gente queria. O dinheiro só viria com a adesão do público, e ele conseguiu essa adesão convencendo os grupos de Anime e Fansubs a embarcarem de cabeça na ideia do evento dele. O Anime Friends surgiu como um evento feito com o que o público dele quer ver. Os grupos de anime fizeram toda a propaganda e convenceram seus membros a fazerem parte do evento. Cada grupo tinha a sua sala, e o meu grupo mesmo, levou certamente mais de 50 pessoas para dentro do evento. O povo viajou de longe para ver a novidade, o público lotou aquele colégio, e continua lotando o Anime Friends até hoje.

Ora, um fã de anime não precisa de um evento para assistir Anime, assim como um jogador de RPG não precisa de um evento para jogar seu RPG. As pessoas dirão que é outra realidade, mas não é não. Jogadores de RPG se reúnem em grupos informais, em fóruns, em comunidades, e esses grupos tem nomes, identidades e demandas. Além de negligenciados, muitas vezes os grupos são maltratados pelos organizadores de eventos.

E outra: não é me dando uma camiseta que nem é do meu número, pra eu narrar por 2 horas uma aventura idiota qualquer, que você, organizador de eventos de RPG, estará trazendo mais pessoas para o seu evento e para o RPG.

Acredito que quando os organizadores de eventos de RPG passarem a se preocupar com as demandas de seu público, quando o diálogo começar, quando formos convencidos de que vale a pena ir no evento, quem sabe os eventos de RPG voltam a ser o que foram no passado?


5 comentários:

  1. Esqueci de dizer que ao final do evento o dono da Yamato passou na sala do nosso grupo e agradeceu pessoalmente pela nossa participação...

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  2. E o que será que os roleplayers querem em um evento de RPG atualmente?

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  3. Nesse evento do Mart Center eu estava na "DES"Organização ;)

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  4. Lembro-me dos velhos lives nos EIRPG´s ... mestrei vários lá.
    Cheguei a ter Lives com 150 pessoas ON, uma equipe de 25 a 30 narradores...
    Eu fui na última edição no MartCenter...
    Depois disso o mundo do RPG brasileiro acabou perdendo muito apoio e incentivo. Hoje eu não estou mais nem jogando nem mestrando apesar de ter diversas histórias de live prontas porém não irei executa-las devido a não ter mais tempo nem local para poder fazer jogos.
    Lembro-me dos EIRPG antes do MartCenter...
    As vezes sinto saudades de rever tanta gente que a tempos não sei nem por onde anda...
    Julio Ravnos (de Mogi das Cruzes)

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  5. Eu gostava de mestrar para as escolas, porque era gente jovem e inexperiente.

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