terça-feira, 23 de julho de 2013

O que os jogadores de RPG tem em comum?

Essa é uma pergunta que eu sempre me faço, e cuja resposta é bem complicada. É normal jogadores de RPG gostarem de ler e escrever, terem um perfil mais “nerd” ou “geek”, e adotarem uma filosofia de vida baseada em paçoca e bacon. Mas isso não é o que os define.


Conheci o RPG pouco antes do ano 2000, de um jeito que muitos jogadores de hoje torceriam o nariz: comecei a frequentar eventos de anime, e por meio desses eventos, conheci um grupo de tradução de anime, bem no estilo otaku fanático daquela época (devo lembrar que isso foi antes de existir o Anime Friends, então os otakus de antes eram diferentes dos de hoje). Eu sempre fui meio maluca, e quando criança, sonhava com o dia em que os mangás seriam publicados em português, seguindo o sentido original de leitura. Imagina como eu não vibrei quando isso começou a acontecer? E enquanto estava nesse grupo de anime, fui apresentada ao fantástico “Vampiro A Máscara”. Era um pdf da segunda edição, que eu devorei com voracidade. Então, por intermédio desse grupo, fiquei sabendo que haveria uma mesa do tal do Sistema Daemon, e pedi para ir assistir o jogo, uma vez que eu nunca tinha sequer visto como era, só imaginava. Seria um cenário medieval de baixa fantasia semi-histórico com toques do mito do rei Arthur, eu não conhecia o mestre, nem a maioria dos jogadores. E no dia do jogo, one-shot, um dos jogadores faltou. O mestre olhou para mim com aquela cara de sádico e disse: você vai jogar. Eu quase entrei em pânico mas aceitei. E por questões de simplicidade, ele me deu um bárbaro, um personagem grande, bruto, com mais de 2 metros de altura e um machado. E eu joguei. Fazia sempre as peças de teatro no colégio, e depois disso, eu já era cosplayer em evento de anime. Interpretar nunca foi problema, embora no geral, eu sempre tivesse sido tímida. Joguei e do alto dos meus 1,52m de altura, tive de virar um monstro de 2m que apesar de ter um bom coração, adorava assustar criancinhas e outras pessoas para manter a fama. Joguei e no final da partida o mestre disse: “Tem certeza que você nunca jogou RPG antes? Não tá mentindo pra mim, tá?” Eu me senti bem com isso. A imagem mental que eu tinha criado sobre o RPG estava correta. Mas este mestre estava estudando fora de São Paulo, e eu nunca mais tive contato com ele.

Pouco tempo depois, o mesmo cara que tinha me convidado pra jogar essa mesa, me chamou pra jogar com ele narrando. O jogo era Caçadores Caçados. Ele não narrava bem. Eu não gostei. Tentei mais uma vez, dessa vez Vampiro a Máscara, com uma outra narradora do grupo de anime. Também me decepcionou. Pensei: se quer que algo seja bem feito, faça você mesma. Comecei a comprar livros, inicialmente de Vampiro a Máscara. Li a terceira edição, e menos de 6 meses depois de começar a jogar, eu já estava narrando. Não posso dizer que estava satisfeita, mas para mim, os jogos estavam melhores do que os com os outros narradores que tive de Mundo das Trevas. E minha “carreira RPGística” começou aí. Larguei o grupo de anime mas não larguei o RPG.

Ao longo de todos esses anos, tive e conheci jogadores de todo tipo: nerds, devoradores de livros, góticos viciados em live action, otakus, mas também pessoas que odeiam ler, mal sabem escrever, não fazem questão de aprender. Pessoas com todo tipo de gosto musical, com e sem religião, das mais diversas religiões e ideologias. Tatuados e engravatados. Veganos e carnívoros inveterados. Todo tipo de gente, com os mais diversos passatempos, de repente é atraído pelo RPG.

O que essas pessoas tem em comum? O que eu percebi é que todo mundo que joga RPG porque gosta (não para acompanhar um amigo por exemplo), é uma pessoa criativa. Alguns mais, outros menos, mas são pessoas sonhadoras, que gostam de deixar de lado os problemas da vida real e viajam pra longe enquanto estão ouvindo uma música, vendo um filme, lendo um livro. São pessoas capazes de abstrair, criar um cenário mental, pensar em causas e consequências.

Quando eu fiz magistério (oh, faz tempo) aprendi um pouco sobre a Teoria Cognitiva de Piaget. Segundo essa teoria, todo adulto deveria estar no estágio Operatório Formal e não precisar mais do apoio do mundo material para criar deduções lógicas. Mas na prática, sabemos que não é todo mundo que atinge completamente esse estágio. De certa forma, a maioria das pessoas acaba ficando presa a um ou outro aspecto do período anterior, o Operatório Concreto, dependendo ainda de apoio de objetos concretos para várias coisas. Também existe uma tendência a jogadores de RPG serem pessoas mais inteligentes que a média, capazes de pensar rápido.

Mas é claro, que nem todo mundo que é criativo, tem raciocínio abstrato e pensa rápido vai gostar de RPG. Então, a que conclusão chegar?

Que não existe uma droga de perfil de jogador de RPG. Eles tem em comum certas tendências, que não são exclusivas nem nada disso. Ser jogador de RPG nem funciona como nicho...

Viemos de muitas origens, temos muitos gostos, temos algumas características que se repetem numa maioria. Mas não dá pra rotular o jogador de RPG. Talvez a única coisa que todos tenham em comum é a capacidade de rir das mesmas piadas internas.



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Este post, como tantos outros no meu blog, trata de opiniões pessoais. Você tem o direito de pensar diferente, e eu me coloco no direito de deletar qualquer tipo de ofensa à minha pessoa caso você discorde de meu ponto de vista e não saiba argumentar sem jogar pedras.

3 comentários:

  1. Adorei Graci, pois é a gente se encontra em algumas experiências comuns hehe e as piadas internas são ótimas rsrs

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  2. Estou lendo seu Blog e em varias postagens percebi vc reclamando das suas experiências com seus primeiros mestre, fora esse que viajou para São Paulo, mas qual seria a sua definição de um mal mestre vc poderia fazer uma postagem enumerando esses adjetivos. Suas postagens são muito interessantes, parabéns pelo trabalho realizado aqui...

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