quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O fenômeno "Grupo de RPG procura mestre"

Não tem coisa mais incompreensível para mim, que comecei a jogar RPG e menos de 6 meses depois já estava narrando, que o fenômeno "Grupo de RPG procura mestre"

A história é sempre muito parecida: alguém posta em um fórum ou rede social que está formando um grupo de RPG para jogar "sistema/cenário tal, em tal dia da semana, em tal horário, em tal lugar" e procura por interessados.

Quando alguém se interessa ou faz mais perguntas é que descobre que o tal grupo não tem mestre. Não é interessante que um grupo de jogadores esteja interessado em um determinado jogo, tenham todos um horário restrito, todos eles queiram jogar preferencialmente perto de suas casas, e que ao invés de um ou mais deles se disponha a narrar, eles coloquem um anúncio na internet à espera que alguém se ofereça?




Na minha opinião, esse fenômeno tem várias causas. E vou colocar o que penso aqui:

1. Comodismo

Preparar uma boa mesa de RPG é complicado. Você tem de ler pelo menos um livro inteiro, normalmente bem mais que isso. Tem de ficar pensando por horas em um plot. Tem de criar npcs. Tem de aguentar mimimi de jogador. A maioria das pessoas não está a fim de ter trabalho, e espera um mestre cair do céu para salvá-lo do tédio.

2. Não gostar de mestrar

Isso acontece, mas o grupo pode firmar um contrato no qual todos os integrantes atuariam como mestres. Ao invés de uma só campanha, um grupo de 5 integrantes teria 5 mesas diferentes. E se o grupo se reúne uma vez por semana para jogar, até que a pessoa que não gosta de narrar tenha de fazer isso novamente, ela já jogou 4 vezes e já se passou um mês inteirinho. Isso resolve também outros problemas como comodismo ou falta de tempo, já que você vai ter mais de um mês para preparar a sua mesa!!!

3. Desvalorização da figura do mestre

Esse é na minha opinião o maior dos problemas. Parece que o mestre tem a obrigação de servir o grupo, narrando o que eles querem, quando eles quiserem, indo até eles (muitas vezes tendo de carregar os livros, dados, e todos os demais apetrechos de jogo. Grupos que procuram um mestre e impõe seus termos pouco se preocupam com o mestre. Eles acham que oferecer a casa é prestar um grande favor, desde que o mestre faça o que eles queiram. O narrador corre o risco de acabar virando um escravo de seus jogadores.




Mas eles fazem isso por mal?

É claro que não. Eles simplesmente não percebem que impondo condições estão sendo autoritários, bem como não percebem que a solução é um deles ou vários começarem a mestrar.

O motivo de eu ter começado a narrar foi que os jogadores e mestres que eu conhecia na época não estavam propiciando a qualidade de jogo que eu esperava. A primeira vez que eu joguei RPG foi com um mestre muito bom, mas ele não estava morando em São Paulo, e o que restou à minha volta eram narradores de qualidade duvidosa. Então eu fui atrás. Devorei livros, comecei a narrar. Como os jogadores que eu conhecia também não estavam muito a fim de levar o jogo mais a sério, e apesar de elogiarem os meus jogos, me irritavam com atitudes imbecis em jogo, eu acabei procurando outros jogadores.

Hoje eu jogo num grupo onde quase todo mundo mestra também. Tenho mesa quase todo dia nos finais de semana, jogo um monte de coisa diferente, narro, e todos ficam felizes.

Àqueles que estão procurando um mestre, eu aconselho: comece a mestrar. Você estará fazendo as coisas do jeito que gostaria que fizessem com você. Você estará criando mais jogadores, entre os quais, um ou mais podem vir a se tornarem mestres muito rápido, para que você possa jogar com eles mestrando.

Bote a mão na massa, não espere cair do céu alguém com disposição para fazer esse favor por você.



-----
Atenção: como em outros artigos desse blog, esse representa a minha opinião, que pode ser diferente da sua. Comentários ofensivos serão deletados.




4 comentários:

  1. O problema é quando você não tem nem jogadores ruins, você não tem jogadores. Mas acredito que não possuo mais jogadores porque depois de jogar mais de 10 anos com um grupo muito bom, derrotado pelo prosaísmo da vida burguesa. Ainda não encontrei outro que me satisfassa.

    ResponderExcluir
  2. Mas Leandro, nesses casos é hora de procurar um outro grupo, e a melhor coisa é entrar em algum grupo já formado que tenha vagas, ou em jogos one shot e ver se vinga para uma coisa mais duradoura. A minha crítica diz respeito exclusivamente a grupos de jogadores que se formam sem um mestre, combinam quando, como e onde o jogo deve acontecer, e aí procuram um mestre que satisfaça seus interesses.

    ResponderExcluir
  3. Eu já tive este tipo de experiência. chegando ao ponto de um jogador ter vindo de Barra Boninta para São Paulo só para depois o grupo me avisar que iriam jogar RPG e que eu era mestre. Mas em alguns casos isso pode ser até produtivo.naquela noite se formou um grupo que jogou continuamente uma campanha de dois anos com encontros bimestrais contínuos. Mas o seu caso me lembra quando eu assumi o lugar de mestre pela primeira vez. Porque na adolescencia o grupo queria jogar todo dia, edaí o mestre se cansou. Eu assumi o lugar as veses, e ele gostou de ser tambem jogador, mas tinha ciúme de seus livros, o que me levou a começar a comprar os meus. Diversificamos gêneros e estilos. No final um grupo sem mestres é a possibilidade do surgimento de novos mestres,mas há grupos preguiçosos e aparentemente pesa um ônus, uma responsabilidade sobre o mestre, que muitos jogadores não querem assumir.

    ResponderExcluir
  4. Atualmente narro para um grupo de iniciantes em RPG. Jogamos tranquilamente, sem off e os jogadores conseguem trazer vários plots para o jogo em virtude de representar seus personagens. Eles nem ligam muito para a ficha e sim para a história. Estou me divertindo muito com eles!

    ResponderExcluir