quarta-feira, 4 de março de 2009

Árvores, madeira e cenário de jogo

Hoje, eu resolvi fugir um pouco da linha normal das coisas que costumo escrever nesse blog. Normalmente, eu escrevo textos completos, com começo meio e fim, e revisão. Hoje, estou escrevendo diretamente na janela de composição de texto do multiply, sem revisão e sem compromisso.
Ontem, eu comecei a assistir como ouvinte uma disciplina optativa ministrada para o curso de Ciências Biológicas da USP, que trata especificamente sobre anatomia da madeira. Sendo uma aula introdutória, o professor se focou em vários aspectos com relação à madeira que eu, apesar de já saber, não tinha até agora parado para pensar, e relacionar com RPG.
Quantas vezes nós lembramos das árvores na descrição dos cenários onde os personagens estão? Existe uma relação afetiva entre humanos e árvores. Elas trazem proteção, calor, em alguns casos, alimento. Árvores, geralmente, incitam o conforto e a segurança. O mesmo diz respeito a moveis, pisos e forrações de madeira. É algo inconsciente, tão institivo quanto ter medo de uma tempestade de raios. Árvores e madeira podem formar um clima de aconchego e calma, e sua presença no cenário de jogo pode trazer os personagens para uma condição psicológica mais adequada para os momentos de relaxamento, conversa, descanso, recreação.
Por outro lado, árvores altas e retas, com folhas que começam a aparecer tão alto que nós não somos capazes de identificar, trazem uma sensação de solidão e distanciamento. É como se as árvores se negassem a dar o que elas poderiam dar. É como se seus recursos, seu conforto, sua benevolência, estivesse fora de nosso alcance. Cria um clima gótico de angústia, bom para quando os personagens se perdem ou suas esperanças estão abaladas.
O que dizer então dos artefatos de madeira? Casas, postes, portões de madeira, a presença de madeira nas ruas é aconchegante e rústica. Para uso num cenário medieval, uma vila de madeira pode parecer pobre e precária, mas é muito mais acolhedora do que uma cidade construida com pedras.
Também é possível lidar com esse conceito na época atual. Existe uma tendência internacional a utilização de madeira de reflorestamento, de boa qualidade, na construção civil. Vocês sabiam que a vida util de um poste de madeira de boa qualidade é idêntica à de um poste de concreto? E que devido à composição do poste de concreto, serão necessários pelo menos 5 grandes buracos, 5 minas com estragos ambientais claros, para fazer aquele poste? Além disso, exige energia, que pode vir... adivinhe... da queima de grandes quantidades de madeira.
Então, uma cidade moderna feita de madeira pode ser muito mais sustentável e ecologicamente correta que uma de concreto - além de mais aconchegante. Será que algum dia, em nossos jogos, vamos passar a pensar de forma sustentável, mesmo que isso não tenha ligação com o jogo?
É claro, eu não podia deixar de puxar um pouco a sardinha para o Mundo das Trevas. Num mundo punk-gótico, uma cidade sustentável, com casas de madeira, energia solar, reciclagem do lixo, tratamento da água, pode ser tão estranha e alienígena a ponto de causar medo num Vampiro... ou pode ser tão fantástica para um Lobisomem a ponto dele querer protegê-la a todo custo. Uma cidade assim estaria em perigo. Muitos interesses conflitantes, entre protegê-la e destruí-la.
Será que eu tô viajando demais?